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29/03/2022

Arara-azul-de-lear: patrimônio da fauna brasileira

Segundo relatos históricos, a espécie foi identificada ainda em meados do século 19 por Lucien Bonaparte, sobrinho de Napoleão.

A Caatinga é o bioma semiárido mais biodiverso do mundo, capaz de abrigar uma flora única, além de uma fauna diversa e com alto número de espécies endêmicas, como a arara-azul-de-lear. A ave apresenta uma coloração azul-esverdeada na cabeça e no pescoço, com asas e cauda em azul-cobalto podendo atingir cerca de 75 cm de comprimento. 

Segundo relatos históricos, a espécie foi identificada ainda em meados do século 19 por Lucien Bonaparte, sobrinho de Napoleão. Foi ele o responsável por batizar a ave, que homenageia Edward Lear, pintor e escritor inglês que desenhou o pássaro até então desconhecido no início dos anos 1830 e acabou levando-o para a Europa por meio de sua arte. Depois, a ave realmente chegou ao continente, dessa vez trancafiada em navios.

No entanto, sua localização na natureza só se deu na década de 1970, quando passou a ser observada na Caatinga do Nordeste Baiano. Atualmente, vivem ao redor das cidades de Jeremoabo, Canudos e Euclides da Cunha. 

Revoada das araras-azuis-de-lear

Raso da Catarina: a morada das araras-azuis-de-lear em Canudos

 

Raso da Catarina: revoada em Canudos

Estudos desenvolvidos desde 2008 pelo grupo de pesquisadores da Qualis Consultoria Ambiental indicam que há apenas uma única população de arara-azul-de-lear no mundo, localizada a 20 km da cidade de Canudos, na Ecorregião do Raso da Catarina. 

A região é conhecida como a pátria da arara-azul-de-lear por ter sido o palco da descoberta desta espécie em situação de vulnerabilidade na natureza. Lá, é possível observar a revoada dos pássaros que, com o raiar do sol, saem de seus ninhos podendo voar a distâncias de até 60 km para as áreas onde se alimentam. 

No amanhecer, elas saem em busca do seu “prato” favorito, o licuri, um coquinho que cresce aos cachos em palmeiras típicas da região. Enquanto um grupo se alimenta, ao menos um indivíduo permanece pousado em galhos mais altos, revezando-se com outras araras nesta função de vigilância. Ao entardecer, retornam à morada.

Por conta da sua beleza, a arara-azul-de-lear sempre foi alvo constante da captura ilegal para o tráfico de animais, o que fez com que a sua população tenha sido drasticamente reduzida. Atualmente, o tráfico é uma das principais ameaças à sobrevivência dos pássaros. A boa notícia é que, devido aos inúmeros parceiros protetores da espécie, e do desenvolvimento dos programas de conservação do Grupo Voltalia, realizados nas regiões, já é possível identificar uma expansão populacional da espécie. 

Uma das ações de preservação do espaço das araras está em Canudos, região conhecida pelo movimento de resistência à opressão das tropas republicanas liderado por Antonio Conselheiro. A poucos quilômetros do centro da cidade fica a Toca Velha, um vale formado por paredões de arenito que ganhou este nome por ser o local onde as araras fazem as suas tocas, dentro de orifícios característicos destas rochas.

O local tem entrada controlada de visitantes, o que garante tranquilidade para a reprodução da espécie e inibe a ação de traficantes de aves. Uma experiência inesquecível para quem gosta de observar os pássaros em seu habitat natural.